Público pagante de 56.890 torcedores e um inesquecível desfile de craques
O New York Cosmos foi um dos times mais populares do insípido futebol norte-americano dos Anos 70/80. De propriedade do grupo Warner Communications, investiu na contratação de craques renomados para tentar alavancar a modalidade entre os ianques, fãs da combinação proporcionada pelo espetáculo com o esportes. Entre 1975 e 1977 Pelé desfilou seu talento pelos adaptados campos de futebol dos Estados Unidos, arrastando multidões aos estádios, cumprindo seus objetivos.
Tanto pelo futebol praticado como pelo quilate das estrelas que compunha a constelação do NY Cosmos daquela época, o time foi comparado ao Real Madrid do início dos anos 2000, cheio de astros de primeira grandeza. Além de Pelé, também jogaram no Cosmos o alemão Beckenbauer (1977 a 1980 e depois 1983), o brasileiro Carlos Alberto Torres (1977 a 1980 e depois 1982), o gênio holandês Johan Cruyff (alguns jogos em 1978 e outros mais em 1981) e o zagueiro polonês Zmuda, que disputou as Copas do Mundo de 1974, 1978, 1982 e 1986, dentre outros craques.
No Brasil naquele início de março de 1980, o NY Cosmos jogou em Manaus no dia 9, seguindo para São Paulo, onde venceu o Santos na Vila Belmiro por 2x1 e depois para Minas Gerais, com registro de outro empate, agora por 1x1, contra o Uberlândia (MG). Em Manaus o evento foi muito além de uma partida de futebol. Com a chancela da Emantur (Empresa Manauense de Turismo), os jogadores conheceram pontos turísticos da cidade e depois "emprestaram" seus nomes e famas a campanhas turísticas do Amazonas na Europa e Estados Unidos. Assim, Beckenbauer aparecia diante do Teatro Amazonas numa foto estampando panfletos e posteres espalhados pela Europa com os dizeres "Estive visitando o maior templo da arte do universo. Venha você a Manaus". O holandês Neeskens fez peça publicitária idêntica, trocando o cenário de fundo pelo Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.
Na foto acima, publicada na página 42 da Revista 10, edição 3, de 2004, Carlos Alberto Torres, uma das estrelas do NY Cosmos.
Fast Clube surpreendeu
Em campo, apesar do calor, os dois times proporcionaram um bom espetáculo aos torcedores, que se espremiam nas ainda mais quentes arquibancadas de concreto puro. "O Fast Clube surpreendeu e teve mais chances no jogo. Clodoaldo foi o melhor em campo e quase fez um gol numa jogada individual" (in Revista 10, edição 3, 2004, página 46).
Sem espaço, centenas ou talvez até milhares de torcedores se concentravam nas marquises do estádio. De vez em quando um gaiato gritava: "tá tremendo tudo". De vez em quando um desavisado acreditava e, por precaução, se jogava das marquises para o corredor entre os portões e a arquibancada. Conta-se, embora sem registro oficial, que até morte foi registrada fruto desta "brincadeira".
Os 56.890 torcedores pagantes constituem-se em um recorde inabalável. Com a redução da capacidade do estádio Vivaldo Lima para cerca de 33 mil lugares, após a instalação de assentos individuais para cumprir determinações da FIFA, o recorde de público pagante jamais será superado. Nem mesmo com a nova Arena, a ser construída para a Copa de 2014, e que terá capacidade para 41 mil pessoas.
Joaquim Alencar
Emérito fastiano, o empresário Joaquim Alencar foi o responsável por esse momento histórico do futebol amazonense. Representante comercial da empresa de relógios Citizen, Alencar tinha clientes em todo o Brasil. Por isso vivia visitando outros Estados, para vender os novos lançamentos da empresa. Assim chegou à Vila Belmiro, em Santos, onde conquistou como fregueses o paraense Manuel Maria, Pelé e Julio Mazzei. Quando Pelé e Mazzei foram para o Cosmos, em 1975, Alencar também passou a representar o time no Brasil.
"No jogo em Manaus chegaram a pensar no Flamengo de Zico, no Corinthians de Sócrates ou no Internacional de Falcão, que era Tricampeão Brasileiro. Mas eu convenci que a partida fosse contra o Fast Clube", lembrou Joaquim Alencar em 2004 em entrevista à Revista 10, que já não circula mais (página 44).
Revelações de Oscar
Na mesma edição, o zagueiro Oscar revela um pouco da impressão dos badalados jogadores sobre Manaus e o amistoso. "Duas coisas impressionaram muito os jogadores: o calor terrível e a imensidão da Floresta Amazônica. Na chegada, o avião passou uma duas ou três horas sobre a floresta e era um verde que não tinha fim", relatou Oscar ao repórter Marcelo Orozco, autor da matéria de cinco páginas na Revista 10.
Oscar, que foi titular da Seleção Brasileira nas Copas de 1978 e 1982, revelou ainda que "o Beckenbauer queria sempre a bola em seu pé, era mais show, ficava mais atrás, na espera para avançar. Por causa disso, o Neeskens vivia arrumando contusão para não jogar. Como ele era um lutador, de se ralar no chão, dizia que não ia correr pelo Beckenbauer".
Sobre o atacante italiano Chinaglia, que depois virou dirigente do Cosmos, Oscar contou que "tinha rixa com qualquer um que fizesse mais gols que ele. Tanto que o Romerito, que chegou ao time junto comigo, já foi fazendo muitos gols e, um dia, eu briquei com ele: deixa o homem (Chinaglia) fazer um agora, que é melhor para você...".
A foto acima mostra Oscar e Clodoaldo, momentos antes do início da partida e foi publicada na Revista 10, página 45.
Made in Fast Clube
Eufórica com a presença dos primeiros galáticos do futebol mundial em Manaus, a imprensa local especulou que o NY Cosmos contrataria um jogador fastiano. À época as apostas recaíram sobre o habilidoso meia Tauires e o lateral-esquerdo Judelci. Porém o fastiano que foi jogar nas terras do Tio Sam foi Clodoaldo (ex-Santos e Tricampeão do Mundo em 1970, no México), contratado especialmente para esse amistoso por Cr$ 55.000,00 mais despesas de hospedagem que somaram Cr$ 13.952,00. E o time norte-americano que o contratou não foi o Cosmos e sim o New York United.
Relíquia perdida
O ponta fastiano Orange tinha uma relíquia em mãos: a camisa do atacante português Seninho, trocada após a partida. Conta um colaborador do blog que até algum tempo atrás Orange desfilava com essa camisa pelas ruas do bairro Aparecida, zona Sul de Manaus. Mas que um certo dia Orange se desfez do "troféu", por alguns poucos trocados.
Ficha Técnica:
Fast Clube 0x0 New York Cosmos
Amistoso Internacional
Domingo, 9 de março de 1980
Estádio Vivaldo Lima, Manaus
Árbitro: Odílio Mendonça da Silva (AM)
Renda: Cr$ 5.744.150,00
Público pagante: 56.890
Público presente (estimado): 70.000
Expulsão: Carlos Alberto Torres 43 minutos do 1º tempo.
Fast Clube: Miguel Banana; Carlos Alberto, Joãozinho, Marcão e Judelci; Clodoaldo, Zé Luis e Tauirís (Fabinho); Rogério, Bené (Iranduba) e Orange (Pesado). Técnico: Juarez Bandeira.
NY Cosmos: Birkenmayer; Eskandarian, Oscar, Carlos Alberto Torres e Wilson; Beckenbauer, Romerito e Rick Davis; Seninho, Chinaglia e Marck Liveric (Nelsi Moraes). Técnico: Julio Mazzei.
Com cordiais
Saudações Fastianas!
Teófilo Benarrós de Mesquita
Eu fui um dos 70 mil espremidos expectadores desse show fastiano.
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